23 de set. de 2013

PROPRIUM

O que se passa na minha cabeça
está isolado de todo o resto.
A solidão cósmica em que vivemos:
não sabemos, do outro, além do raso.

Daí porque queremos ser eternos,
e porque nos urge a necessidade
de deixar, pós-vida, além do hodierno,
algo que rompa as fronteiras do espaço.

Um filho, pra que o nome não se esqueça,
talvez alguma arte de protesto.
Algo que fique marcado no inferno
ou no céu, para a imortalidade.

Seja vaidade, medo do fracasso
ou um ridículo esforço pós moderno,
tentar não morrer, a bem da verdade,
é buscar alcançar o alheio interno.

Não sabemos, do outro, além do raso.

18 de set. de 2013

FENDA

enfim cravei no peito a espora
embebida em anestésico
sangrar o que restou,
deixar ir embora
o tal vazio
suar frio
sem dor

em cima do leito cirúrgico
me ocorreu uma ideia
botar um sanguessuga
sobre a cicatriz
e assim eu fiz
pra sangria
seguir

agora não preciso mais
rasgar o peito com a espora
a fenda fica aberta
sangra o que tiver
para sangrar
vão embora
os medos

fica
firme,
peito
fica
perto,
par.

16 de set. de 2013

MOMENTO

no sopé do Juramento
todos os gatos são pardos
são rasgados os destinos
o dia dura semana

me engana, sina, que eu ardo
longe do teu pensamento
todos os gatos são pardos
no sopé do Juramento