18 de nov. de 2013

cada segundo passa
faça sua parte
entre o
bem o
mal e a
arte

30 de out. de 2013

rimenfrente

tudo que rimo
lembra da gente
à frente dos olhos
vem a vida
completamente
aberta
céu de brigadeiro
e voz clara
tudo na hora certa
tudo na nossa cara
no momento exato
de encontrar a fala
para fazer um trato
vamos seguir
em frente

2 de out. de 2013

entreouvi, entrementes,
a mentira que saía
da sua frente

23 de set. de 2013

PROPRIUM

O que se passa na minha cabeça
está isolado de todo o resto.
A solidão cósmica em que vivemos:
não sabemos, do outro, além do raso.

Daí porque queremos ser eternos,
e porque nos urge a necessidade
de deixar, pós-vida, além do hodierno,
algo que rompa as fronteiras do espaço.

Um filho, pra que o nome não se esqueça,
talvez alguma arte de protesto.
Algo que fique marcado no inferno
ou no céu, para a imortalidade.

Seja vaidade, medo do fracasso
ou um ridículo esforço pós moderno,
tentar não morrer, a bem da verdade,
é buscar alcançar o alheio interno.

Não sabemos, do outro, além do raso.

18 de set. de 2013

FENDA

enfim cravei no peito a espora
embebida em anestésico
sangrar o que restou,
deixar ir embora
o tal vazio
suar frio
sem dor

em cima do leito cirúrgico
me ocorreu uma ideia
botar um sanguessuga
sobre a cicatriz
e assim eu fiz
pra sangria
seguir

agora não preciso mais
rasgar o peito com a espora
a fenda fica aberta
sangra o que tiver
para sangrar
vão embora
os medos

fica
firme,
peito
fica
perto,
par.

16 de set. de 2013

MOMENTO

no sopé do Juramento
todos os gatos são pardos
são rasgados os destinos
o dia dura semana

me engana, sina, que eu ardo
longe do teu pensamento
todos os gatos são pardos
no sopé do Juramento

27 de ago. de 2013

DoT

esse coração
matéria prima da voz
esses prós
e contras que têm feito
bem mais forte
a nossa canção
solidificam
solidificaram
solidificarão
no peito
o som
daquilo
que

o
Tom

coração inchado
respingando azedos
e outros significados

15 de ago. de 2013

isso me sufoca
palavra muita
pouca boca

7 de jul. de 2013

RELIGARE?

Quantas hóstias o católico come
entre a missa e o próximo pecado?
Quanta consciência é posta de lado
em busca de uma noite pouco insone?

A fome do infiel é importante,
por mais que ele não seja arrebanhado?
Aquele que quer ser recompensado
confessa a falta vil menos flagrante?

6 de jul. de 2013

HOMME AISÉ

o sangue sobe
quanto mais meus olhos veem
pouco a pouco
o mendigo se espreguiçar
no tapete da minha sala
peço ao guarda que o remova
do meu tapete
da minha sala
antes que as visitas cheguem
e fiquem escandalizadas
o guarda me olha fundo
com aqueles olhos de mendigo
e diz que não vai tirar ninguém
porque a rua é pública
a rua é de todos
e o mendigo é um cidadão
tanto quanto eu
esse merdinha não sabe
com quem está falando
não sabe, esse fodido,
com quem se meteu.

AUTOCRÍTICA

agora entendi minhas agruras:
só sei escrever miniaturas

6 de jun. de 2013

SERMÃO

Poema bom não precisa de rima.
Rima é recurso barato.
E a métrica, então? De fato,
faz com que o pensamento se reprima.

Toda poesia boa é assim.
Precisa de transgressão.
Requer uma conclusão.
Começo, meio e.
várias árvores de pé
céu estrelado, deitado
olho o céu por entre as folhas

4 de jun. de 2013

ENCONTECIMENTO (RZ, 2013)

A vida passa tão depressa,
que não dá tempo
de encostar o ouvido na concha
do coração,
nem provar o mar escondido
naquela lágrima.
Vida sempre passa depressa,
mas às vezes isso é bom.
Quanto mais a gente é gente,
mais valor nas amizades.
De lágrima e coração,
de mar, de concha e tempo,
menos vida fica em vão,
mais a vida vai no vento.

23 de mai. de 2013

LUA DO SUBÚRBIO

A frente da lua
do subúrbio
é o mesmo lado
que brilha
lá do outro
lado.
A face da lua
permanece,
tanto lá como
aqui
uma idêntica
neve.
Cidade partida
em dois lados,
a lua
igualmente
branca.
Vê-se, da varanda,
o cristo e o crucificando.
Rio de Janeiro,
você sabe
do que estou falando?

6 de mai. de 2013

não se deve
sentir pena
todo erro,
por mais burro,
poderia
ser poema

ESGOTADO

essa água rediviva
já correu pelos esgotos
setenta por cento água
e trinta por cento corpo
proporção da natureza
que não leva em conta a mágoa
vamos falar da certeza:
esgoto, trinta por cento
setenta por cento, morto

12 de abr. de 2013

loneliness is pain
can i call you
soon, my friend?
Pensamento rente:
a quem interessa
ser eficiente?

11 de abr. de 2013

CONTRAINDICAÇÃO

Amargura
misturada
com açúcar,
minha avó
já dizia,
raramente
vira boa
poesia.

OK

Love you? Whatever.
It will be
together.

QUADRA DA INFÂNCIA

Bento que bento é o frade
A infância repele
Tudo que o mestre mandar
Caguei pra ele.

MISCONCEPTION

Two of us? Nevermore.
The perfect choice is
one, two, three, four.

UM PRO OUTRO

Calma, coração
Ainda há tempo
De sentir
O vento
Na cara
De vestir
A fantasia
Ouve, coração
Ainda é dia
De viver
Cantando
Simplesmente
Por uns trocados
Claro, coração
Afortunado
Pra você
É fácil.

9 de abr. de 2013

DOSIMETRIA

Quando se
muito depura
a poesia
fica dura.

8 de abr. de 2013

ENDUVIDADO

Gesto de afago seguro?
Arfar de súbita vontade?
Quatrocentos tons de liberdade?
Onde a mulher esconde o que eu procuro?

3 de abr. de 2013

AMOS

centri
fugo
forti
fico
liqui
feito

acre
dito
entres
safras
sobres
saltos

cadá
veres
ab
soltos
cruci
fixos

en
tornos
semi
deuses
nati
mortos

AUTOSSABOTAGEM

Torço pra me ver livre dos profetas
que anunciam um futuro evidente.
Sonhos, em geral, duram tanto quanto
o braço leva a poesia em frente?
Um poema de autoajuda, portanto.
Maldita poesia adolescente,
tipo mens sana in corpore sano.
Uma questão importa, no entanto:
ajustar o seu passado ao presente
ou impor a passada ao permanente?

2 de abr. de 2013

SEMÁFORO?

Eu sempre quis que a vida
fosse um sinal de trânsito.
O sinal não hesita:
verde é verde, vermelho
não parece outra cor.

Vida não é sinal
de trânsito, nem é
feliz, infelizmente,
simples, direta e reta.
É vida. Siga em frente.

19 de jan. de 2013

SUSSURRADO

Quando tudo era o contorno
Suas linhas se fizeram
Mais presentes no entorno
Do que penso, do que era.

Do que tudo que sabia
No instante em que fizera
As escolhas de poesia
As vontades, as quimeras.

Os instantes que passaram
Se revivem num segundo
O lampejo naufragado.

Como não me superaram
As tristezas desse mundo?
Vivo em frente – sussurrado.